20 de fev. de 2015

Muito mais do que cinquenta tons

postado por Unknown

Já se passaram 15 anos desde a virada do século. Já inventaram até o pau de selfie, mas mesmo assim ainda ficamos chocados quando o assunto sexo é tratado liberalmente. Não precisamos mais sussurrar ou ficar constrangidos ao ouvirmos a palavra no meio de uma conversa. Agora temos até livros e filmes a respeito. A febre “Cinquenta Tons de Cinza” é a prova de que sexo é ainda um tabu pra muita gente.

A comoção causada pelo livro de E.L. James em seu lançamento em 2012 se propaga até hoje com o lançamento da versão cinematográfica. Tudo por que a obra se encaixa na tão subestimada e desprezada ficção erótica. A história da mocinha Anastasia Steele e o tal do Sr. Grey trouxe para as principais prateleiras o que era considerado “literatura de banca”. Não mais contos eróticos vendidos às escuras em versões de bolso! Agora é aceitável lê-los como romances best-sellers, em capa dura e lançados por grandes editoras.

Vitória? Aparentemente sim, agora todo mundo pode dar sua opinião sobre sexo e literatura erótica sem medo de ser feliz (desde que se limite a esse livro, é claro). Na verdade, o livro foi bem mais longe do que trazer à superfície o que antes estava enterrado nos confins dos paradigmas sociais. Começando pela autora – sim, o E. aqui é de Erika – que já chocou bastante pelo simples fato de ser mulher. Uma mulher que não só escreveu sobre erotismo, mas que foi mais a fundo e trouxe outro tom para o que já era considerado escuro: o sadomasoquismo.

E aí que está o problema do que é agora um dos livros mais vendidos do mundo e que, provavelmente, baterá outro recorde nos cinemas. Não é o sexo em si, mas a submissão, a falta de personalidade, o fazer por agradar e não por querer. O ricaço Christian Grey formula até um contrato para que a estudante virgem e puritana se comprometa a ceder todos os seus desejos, independente se forem sexuais ou não. Opa! Em época em que o feminismo finalmente é a carta da vez, causa espanto que um enredo com um teor tão machista seja histericamente amado em sua grande maioria por mulheres.

Mas, em defesa daqueles que apreciam os vários tons de cinza, Anastasia acha mesmo que é a dona da história. Vive em uma disputa entre a garota tímida e sem-graça que sempre foi e que está destinada a envelhecer na companhia de gatos, contra o espírito extravagante que ela guarda dentro de si e que é chamado por ela mesma de “deusa interior”. Seu álter ego é quem a faz ver como ser controlada por um milionário é tão melhor do que qualquer outra coisa que seu futuro possa reservar. É essa deusa também que a faz achar que tomar tal decisão a faz dona de si mesma.

“Mulheres podem fazer o que quiser”, muitos dirão, “e é isso que o feminismo prega”, continuarão a dizer. Isso mesmo, assim como prega o fim da opressão e da dominação dos gênero, eu responderei. O problema já não é mais o sexo, até por que se as duas partes voluntariamente aceitam, faz-se o que se bem entende entre quatro paredes. A questão agora é a convivência no dia a dia entre os dois gêneros em que jamais deveria abrir-se espaço para qualquer tipo de submissão. Ninguém nunca é ou pode ser inferior no mundo real.

Dito isso, chega a assustar perceber que “Cinquenta Tons de Cinza” é tópico de acaloradas discussões simplesmente por se tratar de sexo sendo que há tantos elementos no livro que mereciam mais atenção do que isso. Talvez, quando formos livres e tivermos nos descoberto sexualmente e quando virmos o sexo como algo que pode sim estar presente em livros, prestaremos mais atenção no que realmente importa.

1 comentários:

  1. Eu acho curioso que só agora, com o lançamento desse livro, que as pessoas tenham notado o sexo nos livros. Isso já acontece a muitos anos, o que me faz pensar que o que aconteceu com esse livro foi só um acaso, que tava faltando um livro que conquistasse de alguma forma as pessoas pra que elas começassem a falar sobre o assunto.

    É uma pena que tenha acontecido logo com esse que é tão pouco informativo na questão BDMS e mal escrito, minha opinião.

    Bjs, @dnisin
    www.seja-cult.com

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O que acharam do post, borralhos? Me contem tudo, mas sem brigar, viu?

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