Já se passaram 15 anos desde a virada
do século. Já inventaram até o pau de selfie, mas mesmo assim ainda ficamos
chocados quando o assunto sexo é tratado liberalmente. Não precisamos mais
sussurrar ou ficar constrangidos ao ouvirmos a palavra no meio de uma
conversa. Agora temos até livros e filmes a respeito. A febre “Cinquenta Tons
de Cinza” é a prova de que sexo é ainda um tabu pra muita gente.
A comoção causada pelo livro de E.L.
James em seu lançamento em 2012 se propaga até hoje com o lançamento da versão
cinematográfica. Tudo por que a obra se encaixa na tão subestimada e desprezada
ficção erótica. A história da mocinha Anastasia Steele e o tal do Sr. Grey
trouxe para as principais prateleiras o que era considerado “literatura de
banca”. Não mais contos eróticos vendidos às escuras em versões de bolso! Agora
é aceitável lê-los como romances best-sellers, em capa dura e lançados por grandes
editoras.
Vitória? Aparentemente sim, agora todo
mundo pode dar sua opinião sobre sexo e literatura erótica sem medo de ser
feliz (desde que se limite a esse livro, é claro). Na verdade, o livro foi bem
mais longe do que trazer à superfície o que antes estava enterrado nos confins
dos paradigmas sociais. Começando pela autora – sim, o E. aqui é de Erika – que
já chocou bastante pelo simples fato de ser mulher. Uma mulher que não só
escreveu sobre erotismo, mas que foi mais a fundo e trouxe outro tom para o que
já era considerado escuro: o sadomasoquismo.
E aí que está o problema do que é
agora um dos livros mais vendidos do mundo e que, provavelmente, baterá outro
recorde nos cinemas. Não é o sexo em si, mas a submissão, a falta de
personalidade, o fazer por agradar e não por querer. O ricaço Christian Grey
formula até um contrato para que a estudante virgem e puritana se comprometa a
ceder todos os seus desejos, independente se forem sexuais ou não. Opa! Em
época em que o feminismo finalmente é a carta da vez, causa espanto que um enredo
com um teor tão machista seja histericamente amado em sua grande maioria por
mulheres.
Mas, em defesa daqueles que apreciam
os vários tons de cinza, Anastasia acha mesmo que é a dona da história. Vive em
uma disputa entre a garota tímida e sem-graça que sempre foi e que está
destinada a envelhecer na companhia de gatos, contra o espírito extravagante que ela guarda dentro de si e que é chamado por ela mesma de
“deusa interior”. Seu álter ego é quem a faz ver como ser controlada por um
milionário é tão melhor do que qualquer outra coisa que seu futuro possa
reservar. É essa deusa também que a faz achar que tomar tal decisão a faz dona
de si mesma.
“Mulheres podem fazer o que quiser”, muitos
dirão, “e é isso que o feminismo prega”, continuarão a dizer. Isso mesmo, assim
como prega o fim da opressão e da dominação dos gênero, eu responderei. O
problema já não é mais o sexo, até por que se as duas partes voluntariamente
aceitam, faz-se o que se bem entende entre quatro paredes. A questão agora é a convivência no dia a dia entre os
dois gêneros em que jamais deveria abrir-se espaço para qualquer tipo de
submissão. Ninguém nunca é ou pode ser inferior no mundo real.
Dito isso, chega a assustar perceber
que “Cinquenta Tons de Cinza” é tópico de acaloradas discussões simplesmente
por se tratar de sexo sendo que há tantos elementos no livro que mereciam mais
atenção do que isso. Talvez, quando formos livres e tivermos nos descoberto
sexualmente e quando virmos o sexo como algo que pode sim estar presente em
livros, prestaremos mais atenção no que realmente importa.
Eu acho curioso que só agora, com o lançamento desse livro, que as pessoas tenham notado o sexo nos livros. Isso já acontece a muitos anos, o que me faz pensar que o que aconteceu com esse livro foi só um acaso, que tava faltando um livro que conquistasse de alguma forma as pessoas pra que elas começassem a falar sobre o assunto.
ResponderExcluirÉ uma pena que tenha acontecido logo com esse que é tão pouco informativo na questão BDMS e mal escrito, minha opinião.
Bjs, @dnisin
www.seja-cult.com