De tudo o que se é feito diariamente,
quantas coisas são realmente reconhecidas? Sugiro que poucas. E aqui, nem chego
a filtrar entre coisas boas ou ruins. Somando as duas categorias o resultado
ainda é pouco. E o reconhecimento, estranhamente, anda lado a lado com o
sucesso quando paramos para pensar o que queremos atingir profissionalmente.
Muitas vezes os dois são até confundidos, mas, como já se é sabido, são coisas
diferentes e difíceis de atingir.
Esse questionamento me surgiu quando
me vi assistindo milhares de filmes que estão concorrendo a prêmios esse ano.
Não só assisti, mas como prestei atenção em detalhes, cenários, diálogos,
sequências e gestos como se fosse eu quem escolheria o vencedor. Eu queria me
sentir parte dessa grande glamorização das artes e da qual eu não faço parte.
Todo começo de ano é assim, entre
janeiro e fevereiro premiações acontecem na terra do Tio Sam. Os Estados Unidos
é palco para diversas noites em que trabalhos considerados exemplares e impecáveis
do mundo do cinema, TV e música são prestigiados. É tudo muito lindo e fora dessa
nossa realidade de “horário comercial”. Tudo televisionado pra os sete bilhões
de pessoas que existem; quem quiser ver é só ligar a televisão na hora. Pena
que assustadoramente milhões de pessoas - ou mais - dentre esses bilhões não têm
acesso a uma televisão.
Mas enfim, começa lá no “Red Carpet”,
tapete vermelho aqui para gente, com todas aquelas pessoas bonitas e ricas, desfilando
peças e acessórios que poderiam pagar facilmente todas as minhas despesas do
mês e ainda sobrava um troquinho para, por exemplo, ir a um bom cinema conferir
um dos filmes indicados. Mas a questão é
que todas essas pessoas bonitas e ricas fizeram alguma coisa pra estar lá, ela
não estão lá só por que são bonitas e ricas. Arrisco em dizer que elas são
bonitas e ricas exatamente por estarem lá. Elas trabalharam e estão sendo
reconhecidas. Que sorte a delas, não?
Essas pessoas do tapete vermelho são reconhecidas
até mesmo por nós, que disponibilizamos algumas horas da nossa vida apreciando
o trabalho delas e mais algumas horas sentados assistindo esses eventos que
podem ser considerados um UFC do show business, só quem sem pancadaria.
Além de assistir, ainda ficamos
revoltados quando aquela música boa que toca em todos os comerciais não é
levada a mérito, ou quando aquele ator, que faz a série engraçadinha que a gente
assiste quando chega em casa do trabalho, não ganha. Nessa hora todos somos
críticos, mas por quê? Porque todos sabemos como é nadar e morrer na praia. Ou
nadar e ser puxado para as profundezas por um ou dois tubarões. Ou velejar por
anos até que um vento forte naufrague o barco à apenas alguns metros da terra
prometida. Todo mundo já passou por isso. Todo mundo passa por isso. Todo mundo quer reconhecimento e ver alguém sendo reconhecido por alguma coisa satisfaz.
E por mais que seja envolto de todo
glamour possível, o que nós vemos nessas premiações nada mais é do que isso.
Uma versão “goumertizada” da nossa frustração e da nossa vontade de ser. Por isso nos deixamos ficar angustiados e, por
que não, tristes por alguns segundos pelo os que perdem e quereremos compartilhar
um pouco da felicidade dos que ganham mesmo que nenhuma das duas coisas
interfira em nada em nossas vidas.
Mas quem disse que precisa interferir
ou ter alguma relação conosco? Já que não há um prêmio para quem acorda às
cinco da manhã e volta pra casa às dez da noite, ou tapete vermelho para quem
tem que se dividir entre dois empregos e uma faculdade caríssima, nós
compartilhamos a noite deles. Por que reconhecimento em qualquer nível é algo
praticamente escasso, tanto que parece até pecado querer um pouco. Talvez por
isso seja tão interessante ver todas aquelas pessoas bonitas e ricas. Não pode
ser só pela pompa, mas sim pela circunstância. Aquela circunstância que outras
profissões ou outros mortais não têm, mas que podem apreciar. E se pudermos
opinar, melhor ainda.
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O que acharam do post, borralhos? Me contem tudo, mas sem brigar, viu?