RESENHA: Tudo e Todas As Coisas

Título Original: Everything Everything

Autor(a): Nicola Yoon

Ano: 2016

Editora: Novo Conceito

Páginas: 296

É maravilhoso ler algo que te surpreende, mas mais maravilhoso ainda é ler algo que você queria muito e pelo qual você nutriu enormes expectativas e mesmo assim o livro te surpreender. Nicola Yoon fez isso em “Tudo e Todas as Coisas”

Madeline tem 18 anos e passou no mínimo 99% da sua vida dentro de casa. A última vez que ela esteve do lado de fora ela era quase um bebê. Ela tem a doença conhecida como “síndrome da criança na bolha”, e é exatamente assim que ela vive, em uma bolha. Seus dias se resumem a ler e resenhar, estudar, ter aulas por Skype, respirar um ar filtrado por máquinas instaladas em sua casa para protegê-la, e interagir pessoalmente apenas com sua mãe e sua enfermeira Carla.

Faz tempo que Maddy não tem que lidar com o sentimento de frustração pela vida que tem (ou que deixa de ter), mas o sentimento incontrolável de querer ver o mundo e, acima de tudo, vivê-lo, volta com todas as forças quando Olly se muda para casa ao lado. A conexão entre os dois, ainda que sem trocar uma palavra, é arrebatadora e Maddy passa amá-lo quase que instantaneamente. Mas isso ela só percebe depois, quando os dois começam a trocar e-mails na calada da noite.

“A vida é um dom”, sua enfermeira Carla lhe diz, mas ela não se sente mais viva. Não com ela de um lado e Olly de outro. Então Maddy resolve fazer uma coisa extraordinária pela primeira vez: ela decide viver.

Eu estou chocada com esse livro. Ele foi muito melhor do que eu imaginei, mesmo que eu tenha imaginado coisas maravilhosas. Todos os aspectos dele me prenderam. O texto de Nicola é sensacional. Ela fala tudo o que precisa e atinge tão rápido lá naquele pontinho escondido do nosso coração que quase não dá para notar como ela conseguiu chegar ali. Nicola foi original em todos os sentidos. Com a premissa de uma garota que vive, mas não pode viver; com o amor entre dois adolescentes que querem mas não podem se tocar, com  o drama que atinge a família de Olly que é triste, mas tratado de forma delicada e objetiva; e com o final que não foi nada daquilo que eu supus. Foi extremamente melhor.

Senti cada pedacinho de emoção de Maddy, até as dores físicas. Senti a angustia pela vida perdida, e o sofrimento do final que veio com a descoberta. A raiva, a dor por tudo aquilo que ela perdeu por anos. O amor e a paixão pelo garoto que parece o anjo da morte por só usar roupas pretas, e que a fez decidir viver o que podia.

Que terrível é ter uma vida e não poder vivê-la. O que eu entendi com esse livro é que você não precisa ter nenhuma doença para isso acontecer. Deixar de viver é muito fácil, ficar presa à uma bolha pode acontecer com todo mundo por mais saudável que essa pessoa seja. O mundo é cheio de oportunidades e ás vezes nós desperdiçamos todas.

Quero ressaltar o fato de a protagonista ser uma adolescente inter-racial. Madeline é descendente de negros e orientais. Ela tem pela marrom, cabelos cacheados, olhos levemente puxados. 

Madeline não é branca. 

Representatividade importa e muito. 

Obrigada Nicola Yoon por escrever um YA com uma garota que se parece comigo.

Essa mulher me ganhou e isso é certo. Vou ler tudo o que ela tiver a me oferecer.