5 de mai. de 2016

Pedir representatividade na Literatura não é vitimismo!

postado por Unknown





Quando eu digo que representatividade importa em resenhas que faço ou em conversas triviais sempre acho que isso deve soar um pouco demagógico demais para algumas pessoas. Se o clamor por representatividade soa como vitimismo pra você leitor, deve ser por que você e sua etnia são representado em todos os meios de arte e cultura que existem. Você se vê nos lugares. Eu e boa parte da população não temos esse privilégio. Não nos vemos na televisão, no cinema, nas revistas ou nos livros. É como se nós não existíssemos de verdade. 

Vamos falar sobre livros, essas coisinhas mágicas que nos transportam para inúmeros lugares, mas que nem sempre conseguem nos levar para realidades onde existam mais pessoas como nós: negros, asiáticos, indígenas, indianos, gays, transexuais, assexuais, gordos, deficientes e mais uma dezena de minorias que quase nunca aparecem em livros ou quando aparecem é só para ser o "melhor amigo negro jogador de basquete", "o amigo japonês que ama robótica" e tantos outros esteriótipos que são automaticamente associados a alguns grupos.

Parece que em qualquer realidade paralela - seja ela saída de um livro, novela, filme ou propaganda comercial - só existe um tipo de pessoa. As brancas, magras, heterossexuais e donas de uma beleza midiática considerada padrão.

Nós só queremos ler algo que nos represente também.

O primeiro livro que eu me lembro de ter lido foi o “Menina Bonita do Laço de Fita” da Ana Maria Machado. É sobre um coelhinho branco que quer casar e ter uma filha “bem pretinha” como a sua dona. Mas como fazer isso se ele é tão branquinho? Eu era uma criança, devia ter menos de sete anos, mas meu pai – um homem negro - acertou na mosca quando resolveu comprar esse livro. O coelhinho branco acha a sua dona linda, ama a cor da pele dela e quer ter filhos que sejam daquela cor também. O livro, bem pequenininho e infantil, é uma declaração de amor a tudo o que compõe o negro. A cor da pele, o cabelo, o nariz achatado, os lábios grossos. O coelhinho nunca viu uma pessoa tão linda quanto a garotinha negra! Ah, como foi bom ler isso. Com sete anos eu já sabia que existia pelo menos uma história no mundo em que uma garota como eu era vista como bonita e merecedora de estar em um livro. Com sete anos eu pensava comigo: bom, eu também sou dessa cor, então devo ser bonita como a dona do coelhinho!

Representatividade importa.

Que pena que eu cresci e o número de livros com personagens principais parecidos comigo foram caindo. Talvez isso tenha acontecido por eu ter mudado de gênero de leitura com o passar dos anos. Parece que livros infantis estão mais abertos a agregar histórias com todos os tipos de pessoas do que os livros voltados para públicos mais velhos. Dá pra contar nos dedos quantos livros de fantasia, chick-lit, New adult ou Young Adult que eu li até hoje em que o protagonista não seguia o padrão europeu de beleza. Esse ano, por exemplo,  até agora foram dois. “P.s. Ainda Amo você” da Jenny Han (Lara Jean é descendente de coreanos) e “Tudo e Todas as Coisas” da Nicola Yoon (Maddy é filha de uma negra com um asiático).

Com 14 anos, época em que eu comecei a devorar todos os livros que via, eu pensava comigo: bom, eu não sou nenhum um pouco parecida com essas pessoas dos livros que eu amo. Será que tem alguma coisa de errada comigo?

Gente, representatividade importa demais. 

Se amar é um exercício constante. Amar a sua pele, o seu corpo, os seus traços e tudo o que te define não é fácil pra ninguém, eu sei disso. Mas quando você não encontra em lugar nenhum pessoas que compartilham as mesmas características que você, a coisa extrapola os limites de dificuldade. Como eu posso me amar se para onde eu olho eu não me vejo?

Para mim livros nos mostram horizontes, abrem mentes e caminhos, mas é incrível que ainda tenha tão poucas opções de histórias cujo personagens representem outras etnias, grupos e minorias. O mundo é tão grande. Sete bilhões de pessoas e todas diferentes uma das outras. Cada uma com a sua peculiaridade.


Então por que insistimos em pregar que apenas um tipo padronizado de pessoa merece viver uma história de amor ou uma grande aventura?

Espero viver para ver um mundo literário em que todos nós sejamos representados. Igualmente.

25 comentários:

  1. Oie Jana =)

    Adorei seu texto! Realmente teve uma época em que todas as personagens femininas seguiam um padrão de beleza padrão e era dificil nos vermos nelas. Hoje apesar estarmos caminhando a passos lentos já é possível encontrar tipos de belezas diferentes na literatura e tenho certeza que esse é só o começo.

    Beijos e um ótimo final de semana;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary

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    1. Oi, Ariane.
      Concordo que hoje em dia é bem mais fácil encontrar personagens em livros que seguem diferentes tipos de tipos físicos, mas ainda assim acho que poderíamos dar mais espaço para isso. Vamos esperar que esse seja só o começo mesmo e que as coisas melhorem daqui pra frente.

      Beijos

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  2. Jana, realmente acho algo importante sim para se debater, tanto quando se fala em literatura, quanto TV etc etc. Acho que a nossa cultura evolui muito devagar nesses quesitos..
    Beijos
    http://www.rabiskos.com.br/

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    1. Oi, Mari.
      Sim, todos os meios de comunicação e cultura precisam abrir mais as portas para todos os grupos de pessoas que existem. <3

      Beijos

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  3. Parece que as pessoas tem medo de escrever sobre certas coisas né?Espero que parem com isso e escrevam logo sobre o amor universal <3
    Gostei muito do seu desabafo.


    Então, Cheiro de Sonho foi publicado por uma editora, mas não deu certo.Com muita vontade de mostrar o meu trabalho para todos, estou disponibilizando no wattpad.Bora conferir?:https://www.wattpad.com/myworks/70805310-cheiro-de-sonho
    Beijinhos
    http://carolhermanas.blogspot.com.br/


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    1. Oi, Carol.
      Realmente parece que as pessoas tem medo de falar sobre coisas tão comuns ou de apresentar ao mundo todos os estilos de pessoas que existem. Precisamos mudar isso!

      Beijos

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  4. Olá, Jana.
    Você não sabe o quanto seu texto veio a calhar para mim nesse momento. Estou focada na busca pela representatividade há um tempo e cada vez mais me impressiono menos quando constato o quanto o sistema e a sociedade são racistas.
    Eu concordo com você, representatividade importa sim!

    Minhas Impressões

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    1. Olá!
      Eu também estou nessa busca há um tempo e está sendo muito frustrante. A quantidade é pequena, praticamente nula. A sociedade ainda tem muito que se desenvolver nessas questões.

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  5. Oi, Jana!
    Amei seu texto. Muito bom mesmo!
    Desde pequena, sempre tive dificuldade em me identificar com os padrões da nossa cultura. Os livros nacionais nem tanto, mas alguns internacionais eu já me identifico um pouco...
    Live Lounge é muito amor <3 Do Little Mix, eu gosto do mash up que elas fizeram de Holy Grail/Counting Stars/Smells Like Teen Spirit.
    Beijos
    Balaio de Babados

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    1. Oi, Lu.
      Os livros nacionais são melhores mesmos para nós nos identificarmos, pena que esses têm espaço pequenos nas editoras. Amo esse medley que a Little Mix fez no Live Lounge! Elas são muito talentosas! <3

      Beijos

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  6. Oi Jana!
    Amei seu texto, e acho que você disse tudo! É claro que importa!!! Principalmente para as meninas mais novas, que devem sentir o mesmo que você sentiu quando tinha 14 anos.
    Espero que mais autores pensem como você <3

    Beijos,
    Sora - Meu Jardim de Livros

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    1. Oi, Sora.
      Que bom que gostou do texto.
      Realmente é difícil você ser pequena, precisando de coisas que te representem e mostrem que você importa, mas não encontrar nada. Também espero que mais autores vejam isso e abram as portas para representatividade em livros!

      Beijos

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  7. Representatividade importa SIM!! Gostei muito do post.

    Beijos,
    Postando Trechos

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  8. Excelente post! Representatividade importa e muito! E a prova de que personagens "negros, asiáticos, indígenas, indianos, gays, transexuais, assexuais, gordos, deficientes e mais uma dezena de minorias" são raros ainda hoje, é o destaque e a surpresa que a presença de algum deles em um livro ganha. Deveria ser algo natural e comum, não uma exceção. Acho que estamos caminhando para um dia isso aconteça, mas sinto que ainda temos um longo caminho pela frente.

    Beijos, Entre Aspas

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    1. Oi, Carla.
      Realmente a presença desses grupos em livros continua sendo exceção. Quando aparecem é com personagens pequenos e estereotipados. Deveria ser natural já que todas essas pessoas não são aberrações, apenas são diferentes do padrão cultivado pela mídia. Temos mesmo um longo caminho pela frente.

      Beijos

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  9. Oi Jana!
    Tô aqui aplaudindo esse post, mulher. Parabéns!
    Me lembrei do garotinho negro que se apaixonou pelo boneco do Finn, te Star Wars - O Despertar da Força, porque ele disse que o boneco era igual a ele. <3
    Representatividade importa. E é importante continuar fazendo barulho sobre isso, pra que autores e editoras caiam na real a respeito.
    Beijos,

    Priscilla
    Infinitas Vidas

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    1. *de Star Wars (e não "te") hahaha!

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    2. Oi, Priscilla!
      Essa história do garotinho com o Finn é um ótimo exemplo. Imagina a alegria desse garoto ao ver uma pessoa que se parece com ele em um filme que ele gosta! As pessoas não têm ideia de como isso influencia as pessoas até na hora de escolherem o que vão fazer da vida.

      Acho que é um assunto que é muitas vezes deixado de lado, sendo que nós temos que falar em alto e bom som pra ver se as coisas começam a mudar!

      Beijos

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  10. OI, Jana!
    Seu texto é lindo, necessário, só diz verdades.
    Representatividade importa sim, mas infelizmente há um padrão e parece que é tudo o que importa as classes dominantes. Lamentável isso, principalmente quando as pessoas encaram isso como vitimismo como você citou.

    Adorei o livro que você deu como exemplo inicial, da menina dos lacinhos. Adoro literatura infantil, vou procurar.

    B-jão!
    Diego, Blog Vida & Letras

    ~ Venha comemorar o aniversário do blog comigo: http://blogvidaeletras.blogspot.com.br/2016/05/9-anos-de-vida-letras-concurso-cultural.html

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    1. Oi, Diego.
      Esse padrão colocado pelas casses dominantes está tão enraizado na sociedade que a maioria das pessoas não enxergam o problema ou demoram muito para ver que tem uma lacuna que precisa ser resolvida.

      Pode procurar o livro, é muito lindo <3.

      Beijos

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  11. Oi tipo falou a suuuurrrrpe verdade. Digo o mesmo pra personagens gordos e lgbts. E sobre isso acho que vou ganhar é brincando no quesito representatividade no livro de fantasia que estou escrevendo: tem homem branco hetero, mulher negra lesbica e gorda, mulher bissexual super magra (sem peito nem bunda), homem bissexual e negro corpo franzino, etc

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    1. E não para por aí até mesmo o quesito "famìlia" é bem diversificado: tem duas elfas que tem DOIS pais (um branco outro negro), uma rainha la que foi criada por DUAS mães, umas duas protagonistas que foram criadas pelo irmao mais velho quando os pais morreram, um protagonista filho de pais divorciados, um rei filho de mae solteira (ja que o esposo dela era abusivo com os dois), é claro, tem sim filhos adotivos e de pais heterossexuais.

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  12. Oi tipo falou a suuuurrrrpe verdade. Digo o mesmo pra personagens gordos e lgbts. E sobre isso acho que vou ganhar é brincando no quesito representatividade no livro de fantasia que estou escrevendo: tem homem branco hetero, mulher negra lesbica e gorda, mulher bissexual super magra (sem peito nem bunda), homem bissexual e negro corpo franzino, etc

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O que acharam do post, borralhos? Me contem tudo, mas sem brigar, viu?

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